cosleeping
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É um assunto controverso mas que vai ganhando muitos adeptos pelo mundo fora.
Muitos têm vergonha de admitir, outros afirmam orgulhosos que partilham a cama com os filhos.
Eu acredito que cada família é um mundo, e que não há regras universais de como criar um filho.
O que resulta para uma criança e sua família, pode não resultar para outra!
Apesar de não achar mal nenhum e de adorar adormecer agarrada à minha semente, fico dividida quando me falam da autonomia da criança e de como ter uma cama sozinha lhe pode levar ao auto-conhecimento e maior independência...
Se quiserem partilhar as vossas experiências e opiniões sobre o assunto iria gostar muito de saber o que outros pais pensam.
Em casa de Natália Fialho vivem quatro pessoas, mas existem apenas duas camas. Uma de solteiro e outra de casal. Ambas estão no mesmo quarto, uma ao lado da outra. Juntas, formam uma só cama tamanho gigante. Há também uma cama de grades num dos quartos da casa, mas ninguém lhe dá muito uso. A família – pai, mãe e dois filhos pequenos – dorme toda junta desde o nascimento do primeiro bebé. Sem culpas e sem medo. Por opção. «Li muito sobre a partilha do sono entre pais e filhos durante a primeira gravidez. Como queria amamentar prolongadamente, e esta é uma das formas de facilitar o aleitamento, percebi que dormirmos todos juntos seria a melhor solução.» Em nome da amamentação, mas também do descanso, afirma Natália. «Os bebés que mamam acordam mais vezes durante a noite. Custa muito sair da cama para dar de mamar. É mais fácil se o bebé estiver junto a nós.»
O filho mais velho, Fernando, de três anos, ainda dormiu umas noites no berço, mas chorava de cada vez que se via sozinho sem o calor da mãe, por isso Natália e o marido decidiram pô-lo a dormir perto deles, na mesma cama. Quando a segunda filha nasceu, o seu destino nocturno foi o mesmo, a cama dos pais. Agora eram quatro. O espaço encolheu. Natália e o marido decidiram, por isso, colocar uma cama de solteiro junto à cama de casal e formar um leito king size para toda a família. E assim dormem todas as noites. Catarina tem 10 meses e mama sempre que lhe apetece, Fernando também. Natália não dá conta de quantas vezes dá de mamar aos filhos durante a noite. Está sempre meia a dormir. Os miúdos mamam e voltam a adormecer rapidamente. As noites, diz, passam-se tranquilamente. Quanto à relação entre marido e mulher, nunca saiu afectada pelo sono em família. Natália resume: «Há outras divisões na casa!»
O aumento crescente do número de adeptos do cosleeping levou já a que especialistas cujo nome é sinónimo de credibilidade, como o médico Richard Ferber, guru norte-americano do sono pediátrico e outrora crítico frontal da partilha da cama entre pais e filhos, revissem as suas teorias. Em meados dos anos 80, Ferber publicou um livro - «How to solve your child’s sleep problems» (Como resolver os problemas de sono do seu filho) - por muitos considerado uma bíblia, onde espelhou o pensamento dominante sobre o sono dos bebés: para que consigam ver-se como seres independentes, as crianças precisam de aprender a dormir sozinhas.
Numa entrevista recente à Newsweek, por altura da reedição do livro, o médico, actual director do Centro das Perturbações Pediátricas do Sono do hospital pediátrico de Boston, afirmou que aquela é uma frase que gostaria de nunca ter escrito: «Era a ideia que dominava na altura, não era sequer a minha experiência nem a minha filosofia.» As coisas mudam e Ferber defende agora que, «desde que resulte», cada família sabe o que é melhor para si em termos de rotinas de sono. Se a escolha recair sobre o cosleeping, muito bem, senão, muito bem na mesma.
«AS REGRAS NÃO SERVEM PARA TODOS»
Mas o estigma contra a partilha da cama é forte. Natália não se alonga demasiado sobre o assunto com o pediatra que acompanha os filhos, mas sabe que ele não gosta muito da ideia. Nada que a faça duvidar do seu instinto: «Ninguém gosta de dormir sozinho, não está na nossa natureza.» Muito menos as crianças, defende. «Dormir com os pais dá às crianças uma sensação de segurança que acho que é fundamental elas terem.» De resto, tudo se resume a uma escolha pessoal: «Quero estar disponível para os meus filhos, sempre.» Noites incluídas. Natália não acredita que o cosleeping possa ter consequências negativas: «Eles não vão querer dormir a vida toda connosco… Um dia vão tornar-se totalmente independentes. É o correr normal das coisas.»
Pôr um bebé a dormir com os pais é ou não um erro do ponto de vista educacional? De todo, diz Pedro Caldeira da Silva, pedopsiquiatra do Hospital Dona Estefânia. Pode até ser a solução para alguns problemas. O médico dá o exemplo dos bebés irritáveis ou difíceis de acalmar. Dormir com os pais é, por vezes, o caminho para a tranquilidade. Esse é, aliás, um dos conselhos terapêuticos que frequentemente dá quando lhe surgem casos desses.
O medo de que os bebés se tornem «mimados» ou cheios de vícios por dormirem com os pais é infundado, esclarece Pedro Caldeira da Silva. «Dormir em família pode ajudar a regular o sono. Os bebés tornam-se mais calmos e os pais mais tranquilos.» Cada bebé é um bebé, diz o médico, e há bebés que «para se sentirem bem, precisam de dormir com os pais.» Outros não. É por isso que Pedro Caldeira da Silva raramente dá conselhos sobre o sono das crianças. «O que eu digo aos pais é: conheça o seu bebé.» Tal como os adultos, «as crianças têm necessidades individuais e características diferentes. Nenhuma regra serve para todas.»
Desaconselhar (ou aconselhar!), genericamente, o cosleeping é, por isso, simplista. «Os especialistas metem-se muito onde não são chamados, inclusive na cama dos pais. Há muitas maneiras de adormecer um bebé.»
EM NOME DE UMA AMAMENTAÇÃO DE SUCESSO
A médica de família Celina Pires, impulsionadora de um programa para a promoção do aleitamento materno no Centro de Saúde de Belmonte, onde trabalha, partilha da mesma ideologia: «Não dou receitas, cabe a cada família decidir como quer dormir.» Celina Pires conhece bem o fenómeno do cosleeping. A taxa de amamentação das utentes do CS Belmonte é elevada. Para facilitar o processo, muitas mulheres decidem dormir junto dos seus bebés. «É mais fácil conciliarem os despertares nocturnos», explica a médica, autora também do primeiro site português sobre amamentação (www.leitematerno.org). Com os sonhos em sintonia, mãe e bebé entendem-se quase sem dar por isso e a amamentação decorre sem que ambos estejam completamente despertos. «As mães que partilham a cama com os seus bebés têm tendência para dar de mamar durante mais tempo: as crianças mamam mais frequentemente e, assim, estimulam a produção de leite das mães», explica Celina Pires.
Dormir em família em nome da amamentação e do repouso, portanto. «Estudos sobre o sono demonstram que as mães que partilham a cama com os seus bebés têm um sono mais longo e mais reparador», esclarece a médica. Por seu lado, «os bebés que dormem com as mães têm menos episódios de apneia: devido à proximidade, é mais fácil detectar quando alguma coisa não está bem.»
A atitude negativa da sociedade em geral e dos profissionais em particular sobre o cosleeping não tem fundamento científico, explica Celina Pires, acrescentando: «É um desejo legítimo querer dormir com os filhos e, excluindo situações de potencial risco para a morte súbita, não há razão nenhuma para que não se possa fazê-lo.»
O RECEIO DA MORTE SÚBITA
Ainda assim, autoridades científicas como a Academia Americana de Pediatria (AAP) desaconselham a partilha da cama entre pais e filhos. A posição tem mesmo endurecido ao longo dos últimos anos, sobretudo desde que, em 1999 a Comissão de Protecção dos Consumidores nos EUA emitiu um comunicado a alertar para o risco de sufocação dos bebés quando estes dormem com os pais. A Comissão justificava a medida com os resultados de estudos que haviam estabelecido um risco maior de morte súbita quando os bebés dormem com os pais na mesma cama. Celina Pires questiona esta relação: «Esse risco é importante quando algum dos adultos que dorme com o bebé é fumador. No entanto, quando nenhum dos pais fuma e o bebé tem mais de oito semanas, o risco é insignificante.»
Que dizer, então, dos estudos nos quais a AAP se baseia para desaconselhar o cosleeping? «Nem todos os estudos avaliaram o consumo de álcool ou drogas por parte dos adultos, assim como não fizeram a distinção entre dormir em ambientes seguros ou inseguros, como os sofás, que já está demonstrado serem um factor de risco para a morte súbita», explica Celina Pires. Além disso, as investigações que existem «demonstram a associação entre duas variáveis [dormir com os pais e morte súbita do bebé], mas não podem definir um nexo de causalidade.»
Isto mesmo defende um dos investigadores norte-americanos com mais créditos na área do cosleeping, James McKenna, professor na Universidade de Notre Dame e director do Laboratório Comportamental do Sono Mãe-Bebé da mesma instituição. Dormir na cama dos pais não pode ser considerado, por si só, um risco, diz McKenna. É preciso ter em conta os contextos individuais. O investigador critica o discurso negativo instituído sobre o cosleeping: «Dormir em família pode ser uma decisão responsável, reflexo da forma como os pais querem alimentar os seus bebés e maximizar o seu bem-estar», escreveu numa revisão científica recente sobre o assunto.
«NÃO QUERO SALTAR ETAPAS»
Margarida Marques também dorme perto da filha desde o primeiro dia. Ainda a colocou no berço quando chegou da maternidade, mas, por alguma razão que não sabe explicar muito bem, intuição talvez, aquela imagem não lhe pareceu correcta. Levou-a, então, para a cama grande e aninhou-a junto de si e do marido. Dormiram assim durante os primeiros seis meses de vida da Inês. Depois decidiram pô-la numa cama de grades encostada à cama de casal. Puxaram um dos lados para baixo e engendraram uma cama grande, com espaço para todos dormirem à vontade.
Nunca consideraram que esta opção prejudicasse a relação entre ambos. É um facto que, em termos práticos, obriga a um esforço de imaginação, reconhece Margarida. Mas, «em termos afectivos, nunca nos sentimos separados pela nossa filha, antes pelo contrário».
Inês está prestes a fazer três anos e ainda dorme ao lado dos pais, mamando quando lhe apetece. «Faz sentido para nós e para ela», resume Margarida. Até quando vão dormir em família não sabe – Margarida suspeita que a transição esteja para breve: Inês já declarou que «qualquer dia» se muda, definitivamente, para o seu quarto, onde já dorme as sestas -, sabe apenas que não quer saltar etapas. «Sinto que, desta forma, estou a respeitar o ritmo e o crescimento dela.»
Estar próxima, pele com pele, dar mama, calor, colo e afecto, de dia e de noite, é o que Margarida quer para a sua relação com a filha. Receio de atrasar a independência? «Para mim, é exactamente ao contrário: as crianças tornam-se autónomas tendo uma base de confiança, que se constrói respondendo às necessidades delas.» Inês não tem dificuldades ao nível da autonomia. Prova disso é a forma como decorreu a primeira sesta na escola. Inês, simplesmente, deitou-se na cama e dormiu. Sem mama, sem mãe, sem drama. «Para ela, a hora de ir dormir é um prazer.»
Educar uma criança para a independência é dar-lhe tempo para crescer, defende Margarida. Respeitá-la, dar-lhe segurança. Porque a autonomia não precisa de ser uma vitória das forças externas à criança. Também pode vir de dentro. A seu tempo
O meu filho dorme connosco. Sempre deu péssimas noites e querendo sempre evitar a vinda dele para a nossa cama, confesso que me rendi quando o pequenote teve pneumonia em Janeiro! Tinha 21 meses! E foi o melhor que fiz! O meu sono melhorou e ele, embora ainda acorde durante a noite, acorda muito menos vezes. No infantário não tem problemas em dormir sozinho, nunca teve e até já nem usa chucha na escola, em casa sim, mas só para dormir. É um miúdo neste momento com dois aninhos muito independente, quer fazer tudo sozinho! No meu caso, só acho que trouxe vantagens! Quanto a mim, que sou bastante ansiosa, vi-me mais calma e serena depois da vinda dele para a nossa cama, acho que sinto mais segurança... ele está logo ali no caso de alguma situação. Resultado: dormir mais horas seguidas, não acordar tantas vezes, levantar muito menos, tornei-me mais segura, tranquila, menos irritadiça e bem mais bem disposta :). Mas acho que cada situação é uma situação e cada um deve fazer aquilo que for melhor para si.
ResponderEliminarAdorei o artigo :)
Obrigada mamã, o meu filho também dorme ainda muitas vezes connosco e já têm 4 anos!
ResponderEliminarAcho que ainda é um tema pouco falado aqui em Portugal, por isso resolvi levantar o assunto e perceber o que outros papás pensam!
A minha Bb só saiu do meu quarto perto dos 3 anos...
ResponderEliminarTinha o quarto dela preparado desde um ano de idade, mas sentiamo-nos reconfortados com a ideia de a ter ali ao lado...
Era ela que de manha nos acordava; de pé no berço com um largo sorriso e com um "Olááá" longo :) que nos dava bem estar para o dia todo!
Até que um dia ela decidiu que queria dormir as sestas da tarde no quarto dela, e dai até querer passar lá a dormir á noite foi uma semana talvez. Foi no tempo que ela quis sem guerras e birras...
E posso dizer que o mesmo foi com a chucha(3 anos e pouco) e com o deixar da fralda(3 anos e pouco tambem)
Sou a favor com que as crianças tenham confiança no que estão a fazer... que não façam apenas porque assim lhes é imposto!
Bj meu...
Xp não podia concordar mais com tudo o que disse.
ResponderEliminarO meu filho também tirou a fralda ao 3 anos, no dia em que fez 3 anos conversamos e eu disse:
- M. agora já tens 3 anos, és crescido e não precisas mais de fraldas.
Ele disse: -Está bem!
E nunca mais usou fralda nem de dia nem de noite...e nunca fez xixi na cama!! :)
Acredito mesmo que cada criança têm um ritmo próprio que se for respeitado tudo acontece de forma natural!
Obrigada pela partilha :)
Um artigo bastante pertinente!
ResponderEliminarO meu filho fez sete aninhos em finais de Março e ainda dorme comigo...
É a criança mais independente do mundo e podia perfeitamente dormir sozinho,mas como ele sabiamente diz:
-Vou ser pequenino durante pouco tempo por isso mais vale aproveitarmos!"
A pirralha cá de casa também dorme connosco. Tem quase 3 anos e mamou até depois dos 2. Agora está a habituar-se à caminha dela e é mesmo sem stresses. Adormece bem e quando acorda, quase de manhã, vem para a nossa. É curioso que quando falamos com amigos muitos 'confessam' que os filhos também dormem com eles, mas sempre com medo de serem julgados...
ResponderEliminarÉ verdade, eu também noto algum desconforto quando se toca nesta questão, e na verdade ás vezes as reacções são tão negativas que eu mesma fico com vergonha e decido não partilhar experiências :)
ResponderEliminarNós, cá em casa, também dormimos os 3 juntos. A minha filha tem 19 meses e quase nunca usou a sua caminha. Ainda tentámos os 1º 15 dias, mas desistimos. O facto é que depois disso passámos todos a dormir muito melhor!
ResponderEliminarAdoramos e pretendemos faze-lo com os próximos filhotes.
Por acaso não escondemos de ninguem que praticamos co-sleeping (cansei-me de esconder), mas as pessoas ficam tão incrédulas!