Ensino doméstico



Tenho recebido algumas mensagens a perguntar qual a minha opinião sobre o ensino doméstico.
Eu na realidade acho que têm coisas óptimas e outras que podem ser consideradas menos positivas (como tudo na vida).
Para mim a principal vantagem é que o ensino assim pode mesmo ser personalizado e podemos gerir o currículo de acordo com os interesses da criança, gerir o tempo consoante as necessidades de cada família.
Tenho esse sonho, o de um dia abandonar a cidade e me mudar com a família para o campo. Sonho com uma casa com terreno e espaço para os miúdos correrem descalços, treparem às árvores, fazerem uma horta e darem comida ás galinhas. Só nesta pequena descrição existem tantas aprendizagens possíveis para as crianças e todas as matérias podiam partir daqui - dos pés na terra.
Gostava mesmo de ter uma vida mais simples, mais perto do conceito "slow living" que agora está tão em voga. Confesso que me falta coragem. Ás vezes questiono-me como é que as famílias que vivem assim subsistem, infelizmente não posso deixar de trabalhar para me dedicar em exclusivo aos lavores domésticos e à educação dos meus filhos, mas adorava!
Depois penso também nos meus filhos que gostam de ir à escola, estar e brincar com os amigos...será que seria justo para eles privá-los da socialização com outras crianças para concretizar o meu sonho de ser camponesa. Este é o lado menos positivo da educação doméstica, a meu ver.
Mas mesmo no ensino doméstico existem várias variantes. É totalmente legar em Portugal optar por ensinar uma criança em casa, mas têm que estar inscritas na escola na mesma pois em cada final de ciclo existem provas iguais às que são dadas às crianças que frequentam a escola, para confirmar se as crianças adquiriram as competências básicas proposta para esse período. 
 Existe também a vertente do unschooling onde pura e simplesmente não são dadas aulas às crianças, onde a aprendizagem acontece envolvida na vida real e da motivação de cada criança.
Eu gosto da ideia, mas ao mesmo tempo sinto-a um pouco solitária e alienada da realidade dos dias de hoje.
Os especialistas acreditam que ir à escola é quase sempre o melhor, embora considerem que em alguns casos as pedagogias alternativas são uma boa opção.
O psicólogo Eduardo Sá é mais definitivo nas palavras: “Não acho que os benefícios sejam tão maiores que os custos que justifiquem medidas destas. Tenho noção da preciosidade que significa ter aulas e professores mas também tenho a noção que o recreio é uma escola de vida absolutamente fantástica”. 
Se, por um lado, existe a “ideia demasiado tecnocrática da educação”, o unschooling surge no extremo oposto, com uma visão “aparentemente muito ecológica, em que as crianças parecem ter o direito a uma liberdade sem limites ”. Eduardo Sá defende que “estes dois extremos tocam na mesma questão”: a necessidade de repensar a escola como hoje se conhece.
Seja como for, o numero de crianças a frequentar o ensino doméstico não pára de crescer o que mostra que os pais estão cada vez mais insatisfeitos e desgostosos com o actual sistema de ensino   (eu incluída).
Apesar disso, acredito que ainda não será nesta vida que vou ganhar coragem e me mudar para o campo ou para a praia e por isso os meus queridos filhos terão que frequentar as escolas normais (o Martim já têm a sorte de estar numa escola com um CV flexível).
Para os pais mais corajosos, deixo-vos o link para o guia prático do ensino doméstico onde podem ver esclarecidas imensas questões sobre o tema pelo movimento "educação livre" : aqui
E uma sugestão de leitura, aqui.




Comentários

Mensagens populares